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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Poesia - Aborto Clandestino/ Samuel Tenório



Recebi no hospital a notícia
Minha filha que um dia
Eu coloquei em meus braços
Dizendo: papai o senhor vai ser avô.
Sentia em meu peito um aperto
Mesmo que tudo fosse refeito
Do zero, eu não poderia suportar
Para o mundo eu quis gritar
A decepção de ter uma filha
Que não respeitou a família.

Cuidada em seus tratos
Dava-lhe dinheiro, comida,
Roupa e carinho… e agora
Ela vem com esta notícia!
Eu sabia que não seria fácil.
Fiquei pasmado e sem assunto
Ao saber que a notícia
Já corria nos ouvidos
De um e um das ruas.


Todos iam saber,
Todos iam julgar,
Todos jamais iam aceitar.
Naquele instante a fúria
Sucumbiu meu coração
Eu tinha tudo para dizer não
Não cabia somente a mim.
Eu teria que dar um fim
Naquela história.
Então no outro dia ordenei:
Filha você  terá
Que fazer um aborto.


Ela não quis ouvir,
Sucumbiu no ato de planto
Naquele instante eu não sabia
O que fazer. Você terá um futuro
Melhor do que este. Ti guiarei
Em um caminho não deixarei
Sozinha nesta imensidão do universo
Eu meu ato de confesso
Ti jurarei fidelidade, amor e igualdade.

Não terás este filho,
É a desgraça da desgraça,
Da minha família.
Ainda tu vens me dizer
Que já sabe até o sexo do beber
Eu não quero nem saber
Se é menina ou menino,
Vou fazer de conta
Que isso nunca existiu.


Final de semana,
Tu irás comigo a um lugar
Para realizar o aborto.
Fico imaginando 

Como pude fazer tal ato
Nesta mesma idade eu fui pai
Por muito tempo eu juguei
O rapaz como o principal culpado
Não foi ele que obrigou
A minha filha a fazer o aborto.
Até me implorou
Que daria seu nome,
O seu sobrenome,
Faria o possível.



Eu queria gritar,
Não pode está
Acontecendo tal desgraça,
Que miséria menina tu fizeste
Para mim e para tua mãe
E para teu irmão. E agora
De qual forma eu mim
Apresento as pessoas?
O que pensarão de mim?

Certamente, dirão que eu
Falhei como pai.
Não soube educar a minha filha,
A minha filha, a minha filha.
Esta quando pequena
Era uma princesa.
O tempo passa
E cobra as incertezas
Antes fosse culpa 
Somente dos meus parentes.

Mas a real história complacente
Revela um outro ser
Desigual. Eu sou culpado
Será que a culpa é toda minha?
Eu não posso te responder
Com sinceridade. Faltava
Em me sentir o grau
De igualdade, este que nunca
Pude perceber ao menos
Querer viver.

Recai a um grau
De substância zero
Fizeram de me um miserável,
Um insustentável da própria rotina
Fizeram uma sina
Que eu não podia suportar
No ato de se culpar
De se amargurar
E de se dizer que ele
Era o culpado,
Mais a culpa maior
Era minha.

Ele me implorou
Dizendo que queria ser pai
Queria sentir a magia
A emoção de puder abraçar,
Beijar a criança em seus abraços.
Não é culpa minha
É dos dizeres
Que lá fora grita
Alto da própria tragédia
Da própria miséria
Da própria subordinação
Desgraça de imperfeição
E agora, o que eu posso fazer?

Naquele instante
O céu azul ficou mais escuro
E os dizeres ficaram encolhidos
Nos meus saberes
Eu queria desaparecer,
Sumir na imensidão do mundo.
A minha filha não resistiu
A agressividade do aborto
Clandestino. Eu também 
Sou uma vítima não queiras
Me julgar pelo mal que eu fiz. 





Escritor Samuel Tenório
24 de setembro de 2017




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