“Oi, é a mamãe filha.
Imploro que volte pra casa
O seu pai está acamado.
Será a sua maior guerrilha
Não vier pelo seu pai
Faça por mim, faça por você.
Na vida são válidos os sacrifícios
Sem esperar os benefícios.”
Mensagem de uma rede social.
Passaram 20 anos da expulsão
Por que agora eu sou especial?
Li e reli numa tortura emocional
Examinando um mísero pretexto
Para ver o meu pai.
Lembro em todo momento
Dos finitos dias de sofrimento.
Não faça isso ou aquilo,
Não altere o seu estilo.
Você é uma mulher
Fará o que eu quiser.
Até que um dia rejeitei lavar a louça
A maldita louça, serviço destinado a mim
Não estava com preguiça ou mimimi.
A louça era o fator de me desprestigiar
Um dia eu não pude aguentar
Falei não pela primeira vez.
A louça eu não vou lavar.
Não vou, mande meu irmão.
“É o quê filha? Você não tem direito,
Vai fazer o que eu quiser.”
— Já sei a sua resposta pronta,
Isso por que eu sou mulher.
Tá vendo, você sabe das leis.
Pare, não mastigue heresia,
Lavar louça é a tua serventia.
Vá cuide e pare de reclamar,
Enxugue as lágrimas falsas
E não fale mais ideias difusas.
Tem que seguir o percurso
A história mostra desde o princípio
A mulher nasceu pra servir
O homem. Meu filho não fará
Tal serviço, que não trará
Para ele nenhum benefício.
Em 14 anos nunca falei nada
Aceitei tudo que o senhor falou.
Em nenhuma ocasião perguntou
Como eu estava me sentindo
Dia a dia mais e mais restrições
Nem posso mais sair de casa.
Não fale falsa acusação
Vá aonde você quiser
Acompanhada com o seu irmão
Ou sua mãe, afinal és mulher.
O que foi agora, você quer asas?
Não importa teus sentimentos.
Com o meu irmão é diferente,
Senhor fala para os parentes
Que ele é orgulho da família,
Que orgulho? Que alegria?
Não tem um só dia
De alguém o não acusar.
Seu filho desmereceu minha filha,
Seu filho não pagou a conta do bar,
Seu filho brigou na escola,
Seu filho faltou com respeito ao vizinho,
Seu filho gritou com a mamãe,
Seu filho quis me bater…
Já chega dessa conversa.
Não vou julgar o meu menino
Pelas aventuras da juventude
Ele pode fazer o que quiser
Você não tem esse direito
És minha filha, és uma mulher.
Estou aprontando a sua vida
Arranjei um homem primoroso
Para fazer o seu casamento.
“Pare! com o show horroroso.”
Filha você precisa se casar
Vai permanecer moça por toda vida?
Não aguentei e falei de vez
Saí das amarras do talvez
E gritei: Não Sou Mais Virgem.
Meu pai caiu de joelho:
Deus o que fiz de errado,
Filha eu estou magoado.
Magoado com o quê?
Porque não sou mais virgem.
O meu irmão pode sair com
Três ou quatro garotas na noite
Ele já é pai. “Espere. Não, não, não…
Você está grávida?"
Sim. Sim est…
Não consegui terminar frase,
O primeiro murro no rosto
Segurou firme no pescoço
Esmurrou até o braço
Desfalecer as forças.
Gritei até faltar ar.
Meu irmão não fez nada,
Parecia de ele apreciar.
No ato de desespero
Mamãe reagiu, tomou a frente
Levou um chute no abdome.
“Já chega homem!
É a nossa filha...”
As lágrimas de mamãe misturaram
Com o sangue das feridas
Expostas que não doía
Mais do que o coração.
Pai gritou: essa não é minha filhinha,
Não vejo mais a minha garotinha.
E a culpa é sua mulher!
“Não culpe a mamãe por nada.”
Cale a boca projeto de gente.
Filho ajude pôr o lixo para fora.
Aos gritos eles me arrastam,
Vejo lá no fundo a mamãe chorando
No piso, o sangue se espalhando,
Balança meu corpo a tomar impulso
Me joga quase do outro lado da rua,
Calmamente eles saem andando.
Fui causadora da confusão
Simplesmente por que sou mulher
Extinto o direito de fazer o que quiser.
Agora meu irmão tem esse direito.
Nascer homem é uma virtude,
Nascer mulher é um defeito.
Apulso eu andei até o hospital.
A enfermeira costurou a pele
Iniciou uma cirurgia que expele
O sangue acumulado na cabeça.
Como o pai fez isso comigo?
Deus! Não mereço esse castigo.
Horas depois, a enfermeira
Pergunta: “quem fez isso com você?”
Como proteção eu fingi não saber.
“Precisamos de um número de telefone
Para ligar pra sua família.”
Moça eu estou sozinha.
Bati em quinze portas
Das casas das amigas
Apenas duas me atenderam
Com medo prováveis de brigas
Não ofereceram estadia
Elas foram de muita serventia.
Com um pouco dinheiro
Emprestado e uma única veste
Andei sem rumo para o leste
Por um tempo as marquises
As transformei em teto,
Venci e criei o meu filho.
“Agora o passado de todo dia
Me assombra com mais alento.
Não vou, depois de tudo que ele fez…”
— Mãe o que foi, ouvir você chorando?
Mãe. Vamos juntos ver o seu pai.
“Como você soube?
A sua dor é por causa dele.
Filho eu não vou não…
Aperta de leve a minha mão.
Mãe o perdão e imprescindível
O que a senhora passou é indescritível
Impossível apagar os erros dele
E você não se torture mais.
Jurei que enquanto viver jamais
Ia olhar a face do homem
Que profundamente me golpeou
Peço perdão ao senhor
Por no peito ter esse rancor
Alimentado dia a dia.
Pai! Sou eu sua filha.
Com o avanço da doença
Nem ouviu o que falei
No canto do olho esquerdo notei
O princípio de uma lágrima
Ele conheceu minha presença.
As máquinas produzem sons diversos
De quando cheguei. Corre a enfermeira,
Não podia fazer mais nada, morte anunciada.
Baixei a cabeça e orei a Deus confiando o perdão.
Contei a história de minha vida em versos
E no final perdoei, todavia o tempo não curou as feridas.
Escritor Samuel Tenório
19 de fevereiro de 2018
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Cordel: Independência Dos Estados Da América (Samuel Tenório)
Poesia: Eu Queria Ser Pai (Samuel Tenório)
Não estava com preguiça ou mimimi.
A louça era o fator de me desprestigiar
Um dia eu não pude aguentar
Falei não pela primeira vez.
A louça eu não vou lavar.
Não vou, mande meu irmão.
“É o quê filha? Você não tem direito,
Vai fazer o que eu quiser.”
— Já sei a sua resposta pronta,
Isso por que eu sou mulher.
Tá vendo, você sabe das leis.
Pare, não mastigue heresia,
Lavar louça é a tua serventia.
Vá cuide e pare de reclamar,
Enxugue as lágrimas falsas
E não fale mais ideias difusas.
Tem que seguir o percurso
A história mostra desde o princípio
A mulher nasceu pra servir
O homem. Meu filho não fará
Tal serviço, que não trará
Para ele nenhum benefício.
Em 14 anos nunca falei nada
Aceitei tudo que o senhor falou.
Em nenhuma ocasião perguntou
Como eu estava me sentindo
Dia a dia mais e mais restrições
Nem posso mais sair de casa.
Não fale falsa acusação
Vá aonde você quiser
Acompanhada com o seu irmão
Ou sua mãe, afinal és mulher.
O que foi agora, você quer asas?
Não importa teus sentimentos.
Com o meu irmão é diferente,
Senhor fala para os parentes
Que ele é orgulho da família,
Que orgulho? Que alegria?
Não tem um só dia
De alguém o não acusar.
Seu filho desmereceu minha filha,
Seu filho não pagou a conta do bar,
Seu filho brigou na escola,
Seu filho faltou com respeito ao vizinho,
Seu filho gritou com a mamãe,
Seu filho quis me bater…
Já chega dessa conversa.
Não vou julgar o meu menino
Pelas aventuras da juventude
Ele pode fazer o que quiser
Você não tem esse direito
És minha filha, és uma mulher.
Estou aprontando a sua vida
Arranjei um homem primoroso
Para fazer o seu casamento.
“Pare! com o show horroroso.”
Filha você precisa se casar
Vai permanecer moça por toda vida?
Não aguentei e falei de vez
Saí das amarras do talvez
E gritei: Não Sou Mais Virgem.
Meu pai caiu de joelho:
Deus o que fiz de errado,
Filha eu estou magoado.
Magoado com o quê?
Porque não sou mais virgem.
O meu irmão pode sair com
Três ou quatro garotas na noite
Ele já é pai. “Espere. Não, não, não…
Você está grávida?"
Sim. Sim est…
Não consegui terminar frase,
O primeiro murro no rosto
Segurou firme no pescoço
Esmurrou até o braço
Desfalecer as forças.
Gritei até faltar ar.
Meu irmão não fez nada,
Parecia de ele apreciar.
No ato de desespero
Mamãe reagiu, tomou a frente
Levou um chute no abdome.
“Já chega homem!
É a nossa filha...”
As lágrimas de mamãe misturaram
Com o sangue das feridas
Expostas que não doía
Mais do que o coração.
Pai gritou: essa não é minha filhinha,
Não vejo mais a minha garotinha.
E a culpa é sua mulher!
“Não culpe a mamãe por nada.”
Cale a boca projeto de gente.
Filho ajude pôr o lixo para fora.
Aos gritos eles me arrastam,
Vejo lá no fundo a mamãe chorando
No piso, o sangue se espalhando,
Balança meu corpo a tomar impulso
Me joga quase do outro lado da rua,
Calmamente eles saem andando.
Fui causadora da confusão
Simplesmente por que sou mulher
Extinto o direito de fazer o que quiser.
Agora meu irmão tem esse direito.
Nascer homem é uma virtude,
Nascer mulher é um defeito.
Apulso eu andei até o hospital.
A enfermeira costurou a pele
Iniciou uma cirurgia que expele
O sangue acumulado na cabeça.
Como o pai fez isso comigo?
Deus! Não mereço esse castigo.
Horas depois, a enfermeira
Pergunta: “quem fez isso com você?”
Como proteção eu fingi não saber.
“Precisamos de um número de telefone
Para ligar pra sua família.”
Moça eu estou sozinha.
Bati em quinze portas
Das casas das amigas
Apenas duas me atenderam
Com medo prováveis de brigas
Não ofereceram estadia
Elas foram de muita serventia.
Com um pouco dinheiro
Emprestado e uma única veste
Andei sem rumo para o leste
Por um tempo as marquises
As transformei em teto,
Venci e criei o meu filho.
“Agora o passado de todo dia
Me assombra com mais alento.
Não vou, depois de tudo que ele fez…”
— Mãe o que foi, ouvir você chorando?
Mãe. Vamos juntos ver o seu pai.
“Como você soube?
A sua dor é por causa dele.
Filho eu não vou não…
Aperta de leve a minha mão.
Mãe o perdão e imprescindível
O que a senhora passou é indescritível
Impossível apagar os erros dele
E você não se torture mais.
Jurei que enquanto viver jamais
Ia olhar a face do homem
Que profundamente me golpeou
Peço perdão ao senhor
Por no peito ter esse rancor
Alimentado dia a dia.
Pai! Sou eu sua filha.
Com o avanço da doença
Nem ouviu o que falei
No canto do olho esquerdo notei
O princípio de uma lágrima
Ele conheceu minha presença.
As máquinas produzem sons diversos
De quando cheguei. Corre a enfermeira,
Não podia fazer mais nada, morte anunciada.
Baixei a cabeça e orei a Deus confiando o perdão.
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E no final perdoei, todavia o tempo não curou as feridas.
Escritor Samuel Tenório
19 de fevereiro de 2018
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