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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Poesia - Do Congresso Nacional/ Samuel Tenório



Nos embalos gritantes da esferográfica
Faço raivosos rabiscos na cópia xerográfica
Ensaio na mente as palavras urgidas
Anseio revelar os estágios da minha história.
Perto dos 82 anos de idade a vaga gloria,
Mas, as memórias são incoerentes e fingidas.

As horas passam nada eu escrevo
Ouço baixinho o ponteiro e não vejo
O relógio noticiar as marés do entardecer.
Repouso a cabeça no ombro fadigado,
Alcanço o sol andar no piso desgastado
Em turbilhão a lembrança a emudecer.

Assisto a fração jazida do sapo cururu
A deleitar a refeição quebrando o jejum
Que não é concluído e se bulindo regurgita
O pedaço de isopor que achou ser pão
Ao lado, o meu filho, segura com a mão
E come o antes rejeitado e não vomita.

A terra dura faz gritar a enxada
Escassez é a nossa faixada…
Revivo a era do passado presente.
Neste dia, ouço distante a doação
De serviço a proclamar a construção
Da capital, do teto, eu sou ausente.

Por mais de dois anos fui o dito capitão
Carregando os muitos pesos do chão
Servindo os homens de habilidade
Da terra, pedra e cimento fazem arte.
No fim do dia, o então amigo Duarte
Apresenta a sentença da liberdade.

Os cúmplices se dão nos últimos abraços
Neste clima de despedidas e embaraços
Trocamos brindes de irrisórios valores
Estes pra gente são em muito especial
O amigo Duarte em palavra espiritual
Pôs um em minha pasta em louvores.

Deixou o recado para mim só olhar
O que me dera quando chegar
Na terra natal, com um abraço
Foi-se a despedida com sucesso
Fazendo esquecer o regresso
Que levo comigo no vivo disfarço.

Desse lapso, volto com pancadas
Do corredor, que são abafadas
Pelo silêncio da minha solidão.
É o filho, que aqui veio me visitar
Como um bom pai começo a disfarçar
O sofrimento em imutável explosão.

Nas palavras miúdas faz dizer
Que o tempo esculpiu o viver
A cada segundo da despedida…
Assim, deu vida a dor da saudade
Revestida em acomodada liberdade
Dá um presente a minha medida.

Levanto o corpo pesado e arenoso
Caio sem força. Ali, o baú luminoso.
Incomodado, ele trás e entrega a mim…
Isso perpassa o sensacional
Careço ir ao Congresso Nacional
Para a entregar antes do meu fim.

O meu filho, olha pra mim e fala:
“Pai, vamos fazer a sua mala”.
Há mais de 40 anos foi negada
A viagem dos construtores
De Brasília, só para os doutores,
Da nossa mente a ideia apagada.

Agora no tempo vivo e verdadeiro
Piso onde trabalhei com o pedreiro…
“Hei senhor”, escuto alguém gritar,
“Não pode pisar aí, o que quer?”
Essas paredes eu ajudei pôr de pé.
A casa do povo venho visitar.

Do bolso da jaqueta tiro a mão…
Vim aqui devolver, meu irmão!
“É uma bomba, um atentado”.
Dois deles me empurra com força,
Jogado no chão. Por favor!! me ouça,
Não sou bandido, sou um aposentado.

É uma pedra, moço, pra devolver
Quero só o meu, tenho o que viver
Foi engano do amigo Duarte…
Por anos e anos tentei vim pra cá
Essa pedra, jamais eu posso pegar
Seu moço, não quero nenhum desastre.

Livrei-me do peso com a disperdida
Da pedra que antes fora bem vendida
Por 42 anos sentir o peso da dor
De usurpar do povo guerreiro
Na própria casa é um forasteiro
Se meu não é, entrego até o sem valor.

<<Escritor Samuel Tenório (18/09/2019)>>>

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